"Com açúcar, com afeto"

As gargalhadas eufóricas e a correria davam vida àquela casa. E as vozes conhecidas badalavam estridentes à minha audição, pois os domingos eram fartos de alegria e intensa satisfação. Enquanto os adultos conversavam na cozinha, os primos e irmãos saíam em busca de aventura e diversão. Eu como era a menor sempre era ignorada por eles, mas sempre estava os escoltando com perguntas inocentes e risinhos bobos. Mamãe colocava meu vestido mais simples florido e mandava enturmar-me com os maiores, algo impossível, porém tentava como uma guerreira me encaixar no grupo deles. E enfadada tomava em braços as bonecas de porcelanas e atrás de algum móvel sozinha escondia-me. Logo ouvia o vozerio de tio Aquiles a chamar-me. Então, a minha brincadeira preferida começava.
Ele andava contando os passos calmamente à procura de uma “anãzinha vestida de menina” e me ameaçava, pois se eu não aparecesse, eu sofreria uma grande tortura: um ataque de cócegas “a La Aquiles”. Eu já me remexia antes mesmo dele tocar-me. Sentia suas mãos macias em minha cintura e barriga fazendo-me rir a ponto de querer ir ao banheiro. Quando me achava, pronto, eu gritava feito uma doida pedindo que alguém pagasse minha fiança. No final, ele pedia-me que não ficasse escondida e fosse me divertir com as meninas da vizinhança na praça tranqüila.
Na mesma casa, recostada na cadeira de balanço eu via os flocos de poeira flutuar numa densa nuvem pela sala. Os discos de vinil, livros de grandes autores e várias fotos adornavam as prateleiras intactas e antigas e contavam histórias. Na vitrola tocava “Com açúcar, com afeto” e reaquecia meu coração, embalsamando-me minha’lma, levando-me a outro lugar distante da realidade, e não que fosse destino irreal, mas apenas lembranças – com um sabor agridoce indecifrável, somente conhecido por aqueles capazes de mantê-las vivas na memória por todos os dias de sua vida, recordava-me da felicidade outrora sentida e dos dissabores tornando-se feridas incuráveis.
E ao último sopro de um vento invadindo a casa, inspirei profundo e um palpitar mais forte no coração encheu-me de saudade, de um eu te amo afagado e de um beijo selado em meus lábios; minhas pálpebras pesaram e eu deixei que meus olhos cerrassem quiçá para levar-me a um sonho retomado pelas recordações ou para um sono profundo, deveras eu não queria saber...
P.S.: Ô texto longo... Fazia tempo que não escrevia "assim". Espero que gostem, porque quem nunca se viu velhinho pensando na vida, né?! (; E a Luiza me deu um selinho, obrigada! *-* E layout novo e aos poucos vou fazendo os retoques de olho nas tutoriais da Jana de ajuda imensa e do auxílio da Becka no banner.
Beijo pra quem é de beijo!

5 comentários:

  1. Texto lindo! Me fez lembrar de quando eu era a caçula da família e os primos me ignoravam... :P

    Beijos.

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  2. Belas memórias menina, a infância passa e deixa saudades e algumas sensações ruins como essas de solidão, bom importante é que ser gente grande também pode ser muito bom. ^^

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  3. Babi, adorei isso!

    "E ao último sopro de um vento invadindo a casa, inspirei profundo e um palpitar mais forte no coração encheu-me de saudade, de um eu te amo afagado e de um beijo selado".

    Lindo texto...grande texto grande! hehe

    um beijo

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  4. E quando se é pequena somos ignoradas... fazemos 15 anos e os primos pervertidos vem correndo te chamando de "priminha" ahuahuahu
    amei o texto ^^

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  5. Demorei, mas apareci...
    Lindo conto!!!
    Verdade...
    Às vezes fico observando minha vó contar histórias de quando era criança...
    Isso me dá uma sensação tão boa!!!

    Bjs

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