P.s.: Eu te amo!

12 de dezembro de 2008, North Haledon/NJ - New York.

Chloe,
As palavras ainda percorrem caminhos tortuosos em minha mente, mas não sei bem o por quê. Talvez, eu saiba só não quero pensar demasiado. Decerto as confissões em voz alta soam tão assustadoras que prefiro guardá-las somente para mim. Mas eu sei Chloe que você precisa saber toda a verdade... Esta carta não durará mais do que alguns parágrafos, porém não garanto que a mesma não alterará nossa amizade e o rumo de nossas vidas!

Lembra-se de Ruby? Sim, aquela do primeiro ano do colegial, minha amiga e confidente. Ela era um doce comigo, porque ela me fazia rir de mim mesma e comigo, Chloe. Com Ruby aprendi a ser um pouquinho mais feliz já que em casa eu possuía vários problemas familiares e mamãe estava internada. Recordo-me, principalmente, dela, porque ela esteve comigo quando meu Anjo se foi. Enquanto eu chorava noites e dias ela me amparava. Você sabe (quase) tudo sobre essa história, a qual deve saber de cor, pois já lhe contei diversas vezes. Entretanto, você não imagina sequer a verdade sobre o fim da amizade entre mim e Ruby e, outra vez, você pode vir a questionar o porquê desse meu rodeio em contar-lhe sobre a parte omitida e o que Ruby tem a ver com você... E posso lhe afirmar: muito! Ambas têm muito a ver!

Eu sempre soube que era diferente das demais. Porém até meados daquele ano eu não me interessava por ninguém, enquanto minhas colegas e primas falavam de selinhos roubados e mãos dadas em sinônimo de namoro, eu as achava umas tolas. Deveras, lá no fundo, eu acreditava que algum dia chegaria minha vez de me apaixonar. Foi quando conheci Ruby que comecei a duvidar sobre o meu mundo particular. Ela conseguia deixar minha barriga revolta e muitas vezes minhas mãos suavam se estávamos próximas demais. Eu gostava da maciez de seus cabelos quando roçavam em meu rosto, enquanto nos abraçávamos; seu hálito cheirava sempre a chiclete e seus lábios possuíam um sabor morango – como eu sabia disso? Num misto de êxtase e desejos eu pedia emprestado o gloss dela cujo passava em minha própria boca e depois ficava lambendo. Ela me chamava de louca, mas eu gostava mesmo daquilo. Era uma forma inocente de provar do beijo dela.

Agora você já pode tirar suas próprias conclusões, Chloe. Chame-me de qualquer coisa, eu deixo. Mas leia até o último ponto final, por favor.

A amizade entre eu e ela só durou aquele ano, porque numa tarde de novembro ela me acompanhou até a praça da cidade, onde o dia estava ameno, o sol escondido entre nuvens e os balanços moviam-se poucos centímetros devido à pequena brisa e nós duas ocupamos dois deles e ficamos ali em silêncio, apenas sentindo a presença uma da outra. Ela me sorriu um sorriso de lábios, bufou uma ou mais vezes até pronunciar “Preciso que você me faça uma coisa.” Eu a fitei estranhamente, mas fiz sinal positivo com a cabeça para que ela progredisse. “Eu vou embora.” Dessa vez eu realmente arregalei os olhos e tentei falar algo que acabou por não vingar. “Espera... Simplesmente prometa que fará o que eu pedir.” Ela estava me torturando, Chloe. Primeiro o meu Anjo e depois ela, não, isso não. Então eu prometi e ela prosseguiu. “Me beije!” Arqueei uma das sobrancelhas e quando me aproximei dela percebi seu sibilo. “Não, Emily, na boca.” Eu senti meus lábios trêmulos e eu nada consegui fazer. Aliás, fiz o que eu não queria fazer. Afastei-me dela, chamei-a dos nomes mais chulos e preconceituosos e sem me despedir dei-lhe as costas.

Esse foi o meu erro, Chloe. E eu não quero deixar que isso se repita, porque agora eu estou do outro lado na moeda... Minha caligrafia está ficando quase ilegível e tendo esse ensejo, não quero permitir-me a aceitar a perda sem ao menos pronunciar-me e relatar toda a minha vontade, todo o meu querer e esse sentimento arrebatador chamado amor.

Chloe, eu espero a sua companhia e se você simplesmente me der às costas, eu irei entender. Afinal, eu só percebi que queria de verdade outrem quando a perdi. E suponho que ninguém queira se arrepender tardiamente.

P.s.: Eu te amo!
Emily.

Pauta para o BK de última hora, não me venham pregar sobre a sua religiosidade e moralismos, ok? Isto é um conto, porém condiz com o Amor que eu acho muito certo em ser explorado por todos! Logo respondo os comentários, galera.
Beijo pra quem é de beijo!

11 comentários:

  1. Isto é um conto, porém, condiz com o Amor que eu acho muito certo em ser explorado por todos!

    Queria achar um jeito melhor pra dizer isso, mas não encontro.

    Achei-o perfeito. Sem tirar nem pôr.


    Beijos

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  2. Cacete, arrasou!

    Gostei imensamente.

    Amor assim, tão puro, tão verdadeiro, me deixa emocionada.

    Se arrepender de algo que não fez e perder uma das chances de ser feliz, é uma sensação de frustração, hein? Sei-o bem.

    Beijo, querida.

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  3. Pq todas as tardes tem que ser em novembro? (parece que todo escritor gosta dessas tardes, não?)

    Pera ae, ele ficou com uma garota e tava dando em cima de outra? Foi isso, lerei de novo para entender!

    Moralismo e religiosidade? UEHUEHUEHEUHEU' Eu ri.

    O conto ficou excelente e super bem escrito.

    Ps.: tenho vergonha de participar nesse projeto concorrendo com esse teu texto. Tá excelente. Tomara que ganhe!

    Bjos.

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  4. Seus textos são tão bons que eu nunca encontro alguma coisa coerente pra dizer. Enfim, ficou muito bem escrito, lindo! :D

    :*

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  5. Me emocionei, juro!
    Não sei o que dizer, esse texto me arrebatou.

    Beijos

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  6. Você pode não concordar muito com esse Amor, mas escreveu de uma forma que nos envolveu até o final e isso é que vale.
    Sabe que amo como escreves.
    Beijos bom domingo e boa semana

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  7. Ficou lindo o texto, a confusão da cabeça da Emily. Quando novidades assim aparecem, é inevitável o balanço irremediável no nosso mundo particular inteiro.
    Que a Chloe não faça o mesmo que a Ruby, né?

    =*

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  8. Na verdade, fiquei confuso. Chloe é homem ou mulher? asuhaush
    Carta chocante essa viu? Beeeijos ;*

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  9. Linda carta! O amor é um sentimento que não podemos explicar e não cabe ao ser humano julgar ou até mesmo criticar. O amor esta em tudo, até mesmo em duas pessoas semelhantes.

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  10. que carta, hein?!
    até suspirei...
    as pessoas sofrem tanto porque gostam de esconder o que sentem e o que querem.

    tbm acho justo que seja explorado! todo mundo merece ser feliz, com quem quiser.

    Ficou no pódio, hein, safadjhenhah? rsrs
    Parabéns, Babi!

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