Dois olhos negros

Os ladrilhos da pequena cidade eram os mesmos e os costumes de interior permaneceram, mas as faces conhecidas já não vagavam por entre as ruelas.
Palpitava forte meu coração ao fincar os meus pés naquele solo. Sentia-me deslocado e sabia que ninguém mais me reconheceria. Meu mundo era outro. E por tantas vezes desejei não mais voltar ali. Pisava em espinhos e imaginava que minha Flor não tinha esperanças do meu retorno. Mas não me assustaria se ela não soubesse que era minha Flor...
A recepção em casa fora das melhores. De lágrimas, sorrisos, abraços apertados e beijos na face - não havia de ser diferente. Porém eu esperava que me deixassem respirar um pouco ou oferecem-me para ir ao meu antigo aposento, porque seria o suficiente para eu pular a janela e correr pelos fundos da casa a procura de minha flor. Como ansiava o nosso encontro. Cresci e guardara comigo todo o meu amor por ela.
Sem delongas deixaram-me sozinho por um instante. E aos poucos fui adentrando o casarão, que nada mudou, a não ser pela minha foto emoldurada que mamãe expunha na sala de jantar ao lado dos doutores da família. Ri comigo mesmo, só mesmo ela para exaltar-me de tal maneira. Corredor amplo que dispunha de mais fotos e quadros, velhas recordações. E passando para a cozinha surpreendi-me com tal visão. Uma negra baixinha de ancas grandes e largas; cabelo solto crespo enlaçado por uma grossa faixa rosa; vestido de alças finas deixando os ombros bem definidos a mostra, branco, rendado na barra e curto, encontrava-se de costas mexendo o tacho no fogão a lenha.
Por um segundo senti que me faltou o ar nos pulmões e meu coração quase rompera meu peito a fora. Ela não se movimentou um centímetro e somente expeliu de seus finos lábios inclinando a cabeça para o lado o meu nome:
- Caetano?! – E então se virou por completa e encarou-me.
Aqueles dois olhos negros expressivos e inquietantes pertenciam à mesma dona, mais linda, mais robusta e mais... Mulher!
Num solavanco ela abriu os braços e foi de encontro a mim. E naquele dia, convenci-me que meu lugar era ao lado dela, em qualquer mundo.

P.S.: Beijo pra quem é beijo!

6 comentários:

  1. Argh, tinha escrito um comentário imenso e pelo visto não mandou! ¬¬'
    Resumindo: adorei o post! Você descreve as coisas tão bem! *-*
    E sobre as perguntas no post da minha irmã: eu já ouvi falar bem de Labirinto, mas realmente a sinopse nunca me interessou muito. E o sorteio do livro vai ser feito por um site que encontrei na internet.

    Beijos.

    ResponderExcluir
  2. Lindo!!!
    Presenciei a cena... A descrição da casa, da mulher, estava tudo perfeito!!!
    Amei!!!

    Bjs

    ResponderExcluir
  3. Eu amo romancezinhos assim... textos tão doces que fazem a gente entrar na cena *-*

    ResponderExcluir
  4. Doce,
    Preendeu-me do início ao fim a tua história. O amor é assim mesmo, nos deixa ansiosos e quando encontramos aquele que amamos a única coisa que queremos é nos entregar.

    Adorei.

    ResponderExcluir
  5. Parecia que eu estava lá, assistindo a tudo^^

    Amei o post e o lay novo^^

    Beijujubas

    ResponderExcluir
  6. Que lindo, Babizinha!
    Adorei ler esse mini-conto.

    Beijo.

    ResponderExcluir